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sexta-feira, 27 de maio de 2011

MARABAIXO CONTINUA NESTE FINAL DE SEMANA NO LAGUINHO

O Ciclo  do Marabaixo continua neste fim de semana no Laguinho seguindo o costume secular de retirar o mastro na mata do Curiaú e dançar o marabaixo nas rodadas. A tradição é seguida pela família do Mestre Julião Ramos cujos descendentes se encarregam de organizar os festejos em homenagem à Santíssima Trindade e ao Divino Espírito Santo. Amanhã, 28, os moradores membros de famílias tradicionais seguem até as matas do Quilombo do Curiaú  e no dia seguinte dançam marabaixo e recebem convidados na casa da Tia Biló, a partir das 10:00.

Os festejos do Ciclo do Marabaixo iniciaram no Domingo de Páscoa com o Marabaixo da Ressurreição e encerram no dia 26 de junho, no Domingo do Senhor. Neste período os participantes seguem a tradição deixada pelos descendentes de escravos. As mulheres vestem suas saias coloridas, camisa branca e colocam flor no cabelo, enquanto os homens vestem camisa florida e calça de preferência branca, nos pés sandálias e sapatos pra agüentar a festa até o final. O som é marcado pela percussão de caixas feitas de tronco de árvores com couro de animais e os tocadores usam pedaços de madeira para dar o ritmo. 

A festa -Homens e mulheres de todas as idades participam da festa, como organizador, tocador, dançarino ou platéia. No Laguinho o grupo Raimundo Ladislau reúne os brincantes, devotos, curiosos e pesquisadores na casa da Tia Biló, filha do Mestre Julião Ramos. Eles formam um conjunto de mais de 100 pessoas de todas as idades que animam o bairro e eternizam a  tradição que é símbolo da resistência negra e resgate da memória dos primeiros moradores de Macapá. Qualquer pessoa pode entrar na roda, o caldo é servido para dar energia e a  gengibirra é distribuída controladamente.

O início - A família do Mestre Julião foi uma das primeiras que aceitou a proposta do primeiro governador do Amapá, Janary Nunes e saiu das imediações da Igreja São José e veio para o Laguinho fazer sua morada. Com eles vieram todos os costumes que tornaram o marabaixo uma referência amapaense e oficializou o Ciclo: fazer gengibirra com cachaça, água, cravinho e gengibre, soltar fogos, preparar o caldo que é servido durante a festa, rezar em agradecimento aos santos nas missas e novenas, dançar nos bailes e se enfeitar sem vergonha de usar as vestimentas.

Danniela Ramos, bisneta de Mestre Julião, preside o grupo que reúne não somente parentes e afro-descendentes, mas mistura raça, idade e gênero. Ela conta que a principal conquista é conseguir o respeito de autoridades e a compressão não somente de amapaenses, mas dos brasileiros. “Pulamos muitos obstáculos, mas hoje a Igreja São Benedito nos recebe e aos nossos santos enfeitados com fitas, e as autoridades valorizam nossas festas, assim como a maioria dos laguinenses. Claro que não somos unanimidade, por ignorância cultural há quem ache que é baderna e imoral mantermos nossa tradição e no bairro negro da cidade, berço da cultura amapaense, mas cremos que um dia esse pequeno grupo vai deixar o preconceito de lado e respeitar nossa tradição”, diz Danniela. 
   
Amanhã, às 09:00 os participantes saem da casa da Tia Biló para o Curiaú onde cantando e dançando tiram os mastros e retornam para o Laguinho onde deixam o mastro na casa da dona Raimunda. No domingo, a partir das 10:00 a Tia Biló abre as portas de sua casa para receber os convidados que seguem para buscar o mastro com a dona Raimunda e retornam. Durante o dia inteiro são preparados o caldo e a gengibirra e às 17:00 começa a rodada de marabaixo até meia-noite. 

Segue abaixo a programação:
28/05/2011--------- 09:00h -  SÁBADO DO MASTRO:  CORTE DO MASTRO NO CURIAÚ.
29/05/2011--------- 10:00h -  DOMINGO DO MASTRO: 2º MARABAIXO. Até meia noite.
01/06/2011--------- 17:00h - QUARTA-FEIRA DA MURTA DO DIVINO ESPíRITO SANTO: 3º MARABAIXO (Até o amanhecer do dia 02/06-QUINTA-FEIRA DA HORA: Levantação do Mastro do Divino Espírito Santo).
02/06/2011--------- 21:00h - 1º BAILE DOS SÓCIOS DO DIVINO ESPÍRITO SANTO.
03/06/2011--------- 19:00h - INÍCIO DAS NOVENAS DO DIVINO ESPÍRITO SANTO.
10/06/2011--------- 19:00h - INÍCIO DAS NOVENAS DA SANTÍSSIMA TRINDADE.
11/06/2010--------- 21:00h - 2º BAILE DOS SÓCIOS DO DIVINO ESPÍRITO SANTO.
12/06/2011-------- 07:00h - DOMINGO DO DIVINO ESPÍRITO SANTO- missa na Igreja de São Benedito, após a missa café da manhã na casa dA festeira;
16:00h - MURTA DA SANTÍSSIMA TRINDADE: 4º MARABAIXO (até o amanhecer do dia 13/06:Levantação do Mastro da Santíssima Trindade).
13/06/2011-------- 21:00h - 1º BAILE DOS SÓCIOS DA SANTÍSSIMA TRINDADE.
18/06/2011-------- 21:00h - 2º BAILE DOS SÓCIOS DA SANTÍSSIMA TRINDADE.
19/06/2011-------- 07:00h - DOMINGO DA SANTÍSSIMA TRINDADE- missa na Igreja de São Benedito, após a missa café da manhã na casa da festeira.
23/06/2011--------20:00h -  CORPUS CRHISTI - 5º MARABAIXO
26/06/2011--------17:00 - DOMINGO DO SENHOR -  Derrubada dos mastros, escolha dos festeiros do próximo ano e encerramento do Ciclo do Marabaixo 2011.

Texto e Fotos:
Mariléia Maciel
Assessora de Comunicação

Música no campo: Uma orquestra sinfônica no meio de um assentamento rural


No dia-a-dia de trabalhadores que vivem da agricultura familiar, em um assentamento rural, um grupo de crianças e adolescentes aprende de Beethoven e Chopin à Vinícius de Morais e Tom Jobim. Esse lugar é Bom Jesus, no município de Tartarugalzinho, norte do Amapá, palco de ensaio e apresentação da Orquestra Sinfônica Florescer, formada por filhos de trabalhadores rurais que começam a mudar seus destinos de futuros agricultores e descobrem a arte através da música. São 70 crianças de 8 à 17 anos que, na folga da escola, por algumas horas trocam a enxada por flautas e outros instrumentos de sopro e corda vivendo uma experiência nunca imaginada por nenhum dos moradores do assentamento.

A única pessoa que sonhou com o que hoje é realidade, foi à enfermeira Íria Sá, que despertou nas crianças a curiosidade, e agora paixão, pela música instrumental, dando outro sentido às horas que passam na improvisada escola de música. Íria trouxe para  atualidade seu antigo gosto pela música que começou quando estudou piano, ainda adolescente. Ela, que trabalha no único posto de atendimento de Bom Jesus, cansou de ver crianças virando jovens e, ao terminar o ensino fundamental, se acomodarem sendo pais prematuramente seguindo a sina herdada de lavrador e dona de casa, sem qualquer perspectiva de mudança cultural e profissional. 

Foi essa preocupação com a pobreza aliada à falta de opção que levou Iria a sonhar em mudar o destino das crianças. Era o início, há dois anos, da realização do sonho da  Orquestra Florescer. O décimo terceiro salário de Iria foi usado para que as flautas fossem compradas e a iniciação musical das crianças acontecesse com o que ela aprendeu nas aulas de piano. “Aos poucos fui conquistando os pequenos, despertando neles o interesse pela música instrumental, não foi fácil, todos sabem que em lugares onde moramos a preferência é por brega, melody e pagodes, o que não é proibido, mas hoje eles curtem também música clássica e MPB”, conta Íria.

Casada e com três filhos saindo da adolescência, Íria os mandou para Macapá onde estudam e aprendem técnicas musicais na Escola Walkíria Lima. Nos fins de semana eles retornam para Bom Jesus e ensinam o que aprenderam para a mãe, que repassa aos alunos. Desde 2009 duas turmas foram formadas e hoje, os primeiros são responsáveis também por ensinar os mais novos. “Todos estamos aprendendo, é uma via de mão-dupla muito importante, uma experiência única em uma vida educar o ouvido dessas crianças. Despertar nelas o talento e vê-las tocando não tem preço, me emociono de verdade”, disse a professora.

A emoção não é particularidade de Iria, na primeira apresentação para uma platéia que não era somente de familiares, mas com autoridades como o governador Camilo, o prefeito de Tartarugalzinho Rildo e secretários, eles deram a mensagem emocionante. Foi durante uma ação inédita no interior do Amapá que vem coincidentemente reforçar o trabalho de Íria, a inauguração da Casa de Cultura de Tartarugalzinho. Com espaço para aulas de artesanato, canto, dança e música, a direção pretende institucionalizar iniciativas como a de Bom Jesus,  trazendo crianças e adolescentes para a Casa. Os pequenos músicos inauguraram o local vestidos com a primeira doação: as camisas. 

Empolgados, tocaram sinfonias famosas e se esforçaram no canto do coral, que desafinou com elegância e compreensão da platéia por conta da mudança de voz de alguns vocais. Do ensaio na única escola de ensino fundamental do assentamento, até agora essa foi à apresentação mais importante da Orquestra e conseguiu um feito especial, que é a admiração dos que os assistiam pela primeira vez e a garantia de apoio do Governo do Estado. 

Um salto importante para quem não imaginava um futuro diferente da rotina de campo, enxada e feiras. A professora tem outro desejo além de mais instrumentos e uma sala acústica a conquistar, ela quer que os alunos que estão terminando a 8ª série tenham uma cama em casas de família em Macapá para que continuem o segundo grau e estudem música. Uma conquista aparentemente fácil para quem realizou um sonho que parecia impossível: formar uma orquestra sinfônica em um assentamento nas brenhas de Tartarugalzinho, um município que pode se tornar referência pela experiência em meio à invasão de modismos instantâneo que alucinam ouvidos desavisados.

TEXTO: Mariléia Maciel
FOTOS: Márcia do Carmo      

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Festa do Tambor comemora 66 anos do bairro Laguinho

Moradores tradicionais do Laguinho, Zona Norte de Macapá, se preparam para receber visitantes e parentes para a II Festa do Tambor, em homenagem aos 66 anos de criação oficial do bairro. A festa respeita a história e valoriza personalidades, antepassados, as danças, costumes, dia-a-dia, fé e o gosto por ritmos marcado por percussão e pelo esporte. A programação iniciou em abril com a Copa do Tambor, que tem as finais no próximo final de semana, e encerra no dia 14 de maio com exposições, palestras, Gincana Escolar, apresentação de marabaixo e batuque e shows com artistas do Laguinho.

Habitado desde o início da colonização do agora Estado do Amapá, o Laguinho tem mais anos que os 66 festejados, de acordo com pesquisa do filósofo e morador tradicional do Laguinho, Raimundo Dô Sacaca. Segundo Dô, ele foi oficializado somente a partir de 1945 pelo então governador Janary Nunes, que transferiu os negros descendentes de escravos que moravam no centro velho da cidade para o Norte de Macapá, que seria chamado de Laguinho, e para a Favela, hoje bairro Santa Rita. Com as mudanças, vieram o marabaixo, a fé com as homenagens aos santos e outros costumes que são lembrados nesta festa.  
             
Este ano a Festa do Tambor prossegue com as homenagens aos moradores e famílias antigas, a Copa do Tambor, Exposição de Fotografia e da história do bairro, palestras e shows. A novidade é o ritual de fé, com uma celebração católica, e a Gincana Escolar, com participação das escolas Rondônia, Azevedo Costa, Edgar Lino e Barão do Rio Branco, cujo tema é o Laguinho. A premiação é R$ 2 mil em merenda escolar. 

A Copa do Tambor é a valorização de uma das paixões de moradores tradicionais do Laguinho, além do marabaixo e carnaval: esporte. O bairro tem dois times, Guarani e São José e mais dezenas de torneios esportivos, desde promovidos por quadrilhas juninas até os mais tradicionais, como o do Clube do 30 e Banco da Amizade. Participam da Copa do Tambor times que representam entidades e pontos históricos. Foram classificados para a semi-final os times do grupo Sambarte, quadrilha do Estrela do Norte, bloco Kuba-Lança e Tio Duca, campeão do ano passado. A premiação para o primeiro lugar é de 1 troféu e R$ 500,00.

"Estamos comemorando nossas raízes, nossa cultura, nossa história, laguinense de verdade tem orguho de ter nascido aqui e fazer parte dele, mesmo quem é de outros bairros é muito bem-vindo e vai ser recebido com a gentileza de bons anfitriões que somos, a Festa do Tambor é para todos homenagearem nossos moradores e quem ajuda a escrever essa história", diz Dô Sacaca, da organizaçao da festa.

A coordenação está vendendo as camisas comemorativas da Festa do Tambor ao preço de R$ 20,00, no Calçadão do Valdir (esquina da Igreja São José) e Bar do Velho (em frente à Diagro).

PROGRAMAÇÃO:


Local: Sede do São José:
07 DE MAIO: 9:00 - Semi-Final da Copa do Tambor
08 DE MAIO: 9:00 - Final da Copa do Tambor
13 DE MAIO: Local: Sede do Centro de Cultura Negra
17:00 – Exposição fotográfica e histórica do Laguinho, varal de Poesias, Vídeos, visita aberta ao público.
19:00 – Ritual de Fé
20:00 – Abertura Oficial com homenagens à personalidades do Laguinho.
21:00 – Shows com artistas do Laguinho
14 DE MAIO: Local: Sede do Centro de Cultura Negra
08 às 11:00 – Palestras sobre o bairro
16 às 20:00 – Gincana Escolar
20:00 – Shows musicais com artistas do Laguinho 

Mais informações: 8121-7505/9974-8133
Mariléia Maciel
Assessora de Comunicação

LUIZ MELODIA É CONVIDADO DE JULIELE NO “LIVRE, LEVE E SOLTO”

Na 4ª edição do “Show Baile Livre, Leve e Solto”, a cantora Juliele recebe no palco um dos maiores astros da Música Popular Brasileira, o carioca Luiz Melodia. O show, que terá a participação especial de Felipe Cordeiro, une estes grandes artistas que colocarão o público para dançar no Baile que está  trazendo de volta clássicos do brega, samba-canção e boleros tocados por músicos de qualidade em um ambiente agradável e atendimento de primeira. O show será no dia 7 de maio, na Choperia da Lagoa.
 
O “Show Baile Livre, Leve e Solto” cumpre seu objetivo de trazer de volta clássicos dançantes e promover o intercâmbio de artistas, independente de idade ou estilo. No primeiro, Juliele recebeu Evaldo Gouveia  e os consagrados amapaenses Manoel Sobral e Oneide e Patrícia Bastos. Para o segundo Baile o convidado foi o ídolo das empregadas domésticas, Odair José que cantou com Juliele e Cleverson Baia.

Anfitriã - A cada show comprovando que veio para ficar, a anfitriã Juliele consolida sua arte em parceria com vários artistas. Ela começou a carreira profissional com um CD que hoje é escutado em todo o país e no ano passado lançou uma prévia de seu segundo trabalho, Balé de Luz, cujo disco oficial está em processo de finalização. O talento reconhecido no Brasil foi resultado dos shows em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e outras cidades Suas apresentações renderam elogios de críticos famosos e matérias em grandes jornais. Recentemente estreou o “Livre, Leve e Solto em Belém, junto de Evaldo Gouveia.

Melodia - Foi seguindo o padrão de qualidade do Show Baile que a produção convidou para esta edição um dos maiores artistas brasileiros, Luiz Melodia, direto do Morro do Estácio. É a segunda vez que ele se apresenta em Macapá, sendo que na anterior ele cantou no Teatro das Bacabeiras para uma platéia sentada e agora ele volta soltando seu talento eclético que mistura jovem guarda, samba de morro e soul music para os admiradores que gostam de dançar.
Nova Geração - Para completar o Baile, Juliele recebe um paraense que é referência da nova geração de compositores, Felipe Cordeiro, acompanhado da banda Astros do Século. No palco, Felipe faz uma conexão entre os estilos amazônicos, com influência caribenha, e outros ritmos, universalizando sua arte. Ele ousa misturando lambada com tecno-brega e pop-retrô, o que ele define como Kitsch-pop-cult.
 
Livre Leve e Solto começa às 22:00 mas antes o DJ abre o salão colocando o público para ensaiar dança de salão com dançarinos profissionais. A direção musical é do maestro Manoel Cordeiro e a Artística é de responsabilidade de Túlio Feliciano, que tem em seu currículo trabalhos com Chico Buarque, Caetano Veloso, Djavan, Alcione e muitos outros. 

Serviço:
Show Baile Livre, Leve e Solto
Data: 07 de maio
Local: Choperia da Lagoa
Hora: 22:00
Mesa: R4 200,00
Local de venda: Sorveteria Jesus de Nazaré, Banca do Ceará, Choperia da Lagoa e Doctor Feet (Macapá Shoping).  

Mariléia Maciel
Assessora de Comunicação

terça-feira, 3 de maio de 2011

Respeitem nossos valores – e cabelos! (Por: Henrique França [@RiqueFranca])


Francisco César Gonçalves é um sertanejo destemido e sensível. O cara cresceu no burburinho cultural brasileiro-nordestino, tornou-se um irreverente e talentoso cantor, encantou o mundo com suas canções e acabou na vida administrativa. Hoje, secretário de Cultura da Paraíba, Chico César mostra que, apesar das assinaturas e burocracia necessárias ao cargo que exerce, permanece um dom Quixote da cultura do Nordeste, sua terra, sua gente, seu valor.

Negro, de família humilde, sertaneja, fora dos padrões emburrecidos de “beleza”, Chico tem na palavra sua espada. E com ela vence batalhas, apesar de fazê-lo diante da impossibilidade de ferir um ou outro. Esses dias, o nome de Chico César voltou a provocar reações positivas e negativas, depois que o secretário declarou que grupos musicais que destoantes da tradição musical nordestina – as bandas de forró de plástico ou as duplas sertanejas – não serão contratados pelo Governo da Paraíba para a programação do São João local.

Com a polêmica nos principais sites de notícias da Paraíba e do Brasil, com seu nome entre os dez assuntos mais comentados do twitter, Chico César foi vítima e vilão, ganhou mais respeito por alguns e insultos por outros. E, pasmem, ganhou um bom número de internautas que declararam sequer conhecer esse “tal Chico César”! Os argumentos contrários à declaração do cantor se baseiam na vontade popular: se o povo gosta, dê a ele todo lixo em forma de canção, dancinhas e gritinhos.

O argumento é frágil e pouco convincente. Se assim fosse, que tal ampliarmos a discussão para outras áreas. Se o povo gosta de fumar, libera o cigarro; se o povo gosta de acelerar, libera essa besteira de limite de velocidade nas ruas; se há pais que não acham necessário matricular seus filhos em uma escola (melhor levá-los para pedir um trocado nos semáforos), deixe que eles, como pais decidam. Parece exagero? Sim, mas não é. A música é, sim, um instrumento de mudança social. Aliás, qualquer forma de arte possui essa capacidade.

Então, quando eu relego a décimo plano uma música que nos identifica como povo, que fala a língua do Nordeste, que nos remete a memórias ancestrais dos nosso pais, avós, que valoriza as pessoas, as relações, mesmo os embates históricos, as lembranças de uma trajetória nordestina – seja cantando um pássaro ou um lamento do homem sertanejo, seja narrando o despertar da adolescência da menina do interior ou uma disputa engraçada de embolada -, estou lançando toda essa carga de história aos resíduos memoriais.

Não, não se trata de alienação ou de direcionamento do que eu devo ou não ouvir. Trata-se, sim, de respeitar o povo a quem ele – Chico César – serve. Caso contrário, há quem concorde em pagar caro por artistas que elevem em suas canções o machismo exacerbado, o xingamento gratuito, a insinuação de pedofilia, a exposição de mulheres como pedaços de carne rebolando sobre um palco, sendo desejadas de forma tão obscena que se torna vergonhoso por se dar em espaço público, que traz em suas letras refrões do tipo “vem molhar o meu corpo, quero ver se vai resistir o que tenho aqui”, “o meu bolso é minha guia, a bebida é a razão”, “eu juro não vou sossegar - se você não me der, desculpa, eu vou roubar”? Tem mais: “Vai começando na cabeça/ Vai descendo pro queixinho/ Menina gostosinha, eu sou o seu neguinho/ Alisando, alisando, esse lindo umbiguinho/ Se você não aguenta fale assim pra mim: Ai painho, a-a-ai painho.”

Atenção, críticos e suas metralhadoras giratórias. É isso que vocês estão defendendo? Não se trata, aqui, simplesmente de arte. Trata-se de comportamento, respeito, o mínimo de coerência. Porque quando um “painho” estupra a própria filha ficamos todos revoltados. Porém, quando um “artista” canta isso, insere uma voz de criança para cantar “a-a-ai painho” ninguém se constrange ou se indigna? É isso mesmo? Chico César é um artista que está secretário. Não cabe aqui avaliar sua atuação administrativa, mas esse é o mesmo homem que escreveu, na canção-desabafo “Odeio Rodeio”: Me tira a calma, me fere a alma, me corta o coração. É bom pro mercado de disco e de gato, laranja e trator / Mas quem corta a cana não pega na grana, não vê nem a cor.

Palavras de Chico, como secretário: “Nunca nos passou pela cabeça proibir ou sugerir a proibição de quaisquer tendências. Quem quiser tê-los que os pague, apenas isso. São muitas as distorções, admitamos. Não faz muito tempo vaiaram Sivuca em festa junina paga com dinheiro público aqui na Paraíba porque ele, já velhinho, tocava sanfona em vez de teclado e não tinha moças seminuas dançando em seu palco. Vaias também recebeu Geraldo Azevedo porque ele cantava Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro em festa junina financiada pelo governo aqui na Paraíba, enquanto o público, esperando a dupla sertaneja, gritava "Zezé cadê você? Eu vim aqui só pra te ver".”

Dizem que Chico César está sendo intolerante. Talvez devêssemos nós, como “baluartes” da dignidade, nos colocarmos de forma a não tolerar mais certas manifestações “culturais” que nos enfiam goela abaixo valores distorcidos em forma de canções “divertidas”. Não sou preto na pele, não sou musicalmente talentoso como nosso secretário de Cultura, mas aproveito alguns poucos fios de cabelo que agrisalham minha cabeça para cantar com Chico:

Respeitem meus cabelos, brancos
Chegou a hora de falar
Vamos ser francos
Pois quando um preto fala
O branco cala ou deixa a sala
Com veludo nos tamancos.

 [Texto publicado na coluna #CotidianaMente, do Jornal A União, em 20/04/2011]